Estavam todos sentados na sala. Palavras, quase nada. Muitos pensamentos, isso começava a lhe incomodar.
Eram as cores da hora de ir à escola que mais lhe chamavam a atenção... gostava muito do recreio... era ruim a forma como os raios de sol lhe atrapalhavam de ver a televisão...o cheiro do feijão lembrava vovó... odiava quando os cadarços se desamarravam... e por que nunca criava coragem para perguntar?
Já era hora de lavar as mãos. Por mais que tentasse os pensamentos continuavam a rondar, eles estavam lá no intervalo de cada garfada. Acabou, pediu licença.
Os danados a seguiram de volta para a sala, ainda que por alguns instantes fossem apenas o pano de fundo daqueles que ela buscava se apegar com tanto esmero e polidez. Os mal-educados nunca batem antes de entrar, eles invadem porta adentro e tornam-se cada vez mais recorrentes quando se tenta expulsar. O certo é conversar com eles, explicá-los seus motivos, fazê-los compreender e educá-los. Assim eles se vão, e ainda que retornem, já serão velhos amigos.
Mas ninguém lhe havia ensinado isto. Apenas educavam-na a guardá-los na caixa, juntamente com as perguntas e com seus modos afoitos (estes pareciam incomodar bastante, e apesar de não saber bem do que se tratava acreditava estarem de alguma forma ligados as brincadeiras que mais gostava).
A caixa ficava no canto da sala, com um belo laço, do lado direito de quem entra pela porta principal, ali pertinho do sofá. Todos pareciam ter orgulho de exibir a grande e quadrada as visitas, mas ela não conseguia entender. Ela gostaria de descobrir os porquês e todo o resto.
Tudo estava dentro da caixa - bem lacrado - ela precisava se presentear.
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