"São pensamentos soltos traduzidos em palavras Pra que você possa entender O que eu também não entendo"

Concordei com o 'compromisso ético' do blog da Dora (caffe bar) e por isso pretendo praticá-lo aqui.
Assim o farei: todo texto que não for meu estará em BRANCO e com a possível referência. Os meus textos estarão coloridos, como gosto de postá-los.

Se gostou, divulgue. Mas indique a fonte.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Lembranças I

Micos

Quem quando criança nunca foi alvo das terríveis brincadeiras infantis? Ainda que você fosse do tipo que aprontava as suas, sempre tinha um para ir mais longe e acabar com a festa. Os piores diabinhos normalmente são donos das carinhas mais angelicais e curtem a infância instaurando o caos na vida alheia.


Sempre me achei uma criança boba. Com momentos de estripulia, mas boba. Não possuía táticas de convencimento dos meus pais, como outras crianças, do tipo chorar até ficar roxa, inventar amigos imaginários, me jogar no chão, fazer greve de fome ou fingir ataques epiléticos. O grande problema era ser facilmente domada. Parece que isso ao menos facilitava para que os adultos gostassem de mim. Dificilmente havia reclamações de tias ou avós quanto a coisas quebradas ou animais domésticos mal-tratados, como acontecia em relação aos meus primos. Normalmente minha boa-fama ajudava a angariar muitos presentes em épocas de festa. Isso dificultava mesmo a vida das outras crianças da família, visto que meus pais e avós, apesar de presentear, o faziam com certa indignação no caso dos que consideravam não merecedores, aqueles que apresentavam comportamento difícil ou temperamento egoísta.


Mas, como já diz o ditado, nem tudo são flores. Eu sempre fui um prato cheio para as maldades alheias e até entendo que eu fazia por merecer. Posso afirmar que algumas dessas peripécias eram, por assim dizer, hilariantes. Lá pelos meus quatro anos de idade lembro-me de um primo que brincava comigo quase todos os dias. Ele era uma ótima companhia, a não ser por um costume um tanto inconveniente. Havia dias em que brincávamos muito alegres, em outros, porém, ele resolvia botar em prática sua tática cruel.
Com as mãos nos meus ombros fazia com que eu andasse para trás, me levava de dentro de casa até a porta da sala, passo a passo eu me aproximava ao “grand finale”. Tudo acabava quando os passos não encontravam mais o mesmo patamar do piso e eu rolava estrebuchada pelos degraus que davam no corredor.
O mais incrível dessa história é que a cena sempre se repetia, eu nunca perguntei, mas gostaria de saber o que passava na cabeça da minha mãe nessas horas, visto que ela sabia desse peculiar costume do meu priminho e nunca proibiu a criatura de freqüentar nossa casa...

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Delicioso

Na última semana de janeiro, ainda de férias, tive a oportunidade de ler um livro delicioso. Essa me pareceu, sem dúvida, ser a melhor palavra para adjetivá-lo. 13 dos Melhores Contos de Amor da Literatura Brasileira me fez sentir apaixonada e de coração partido por entre suas linhas. Das muitas razões que me fizeram escrever isso aqui, vou pontuar algumas.

O primeiro conto, Vasto Mundo de Maria Valéria Rezende, me deixou na boca com o gosto do inatingível. A inocência e a impotência que nos afoga ao lidar com o inalcançável,perceber como são tolas e ao mesmo tempo repletas de heroísmos as nossas atitudes diante disso.

O quarto conto,
O Homem que Voltou ao Frio de Cíntia Moscovich me fechou a garganta. Me fez subir uma angústia em pensar no que por mim não foi vivido, pensar nas escolhas que nos levam a tantos caminhos e que nos afastam de tantos outros que foram por nós preteridos. As possibilidades do que poderia ter sido, mas que não foi. Desse escolhi a última frase "E porque, afinal, teria sido inútil tornar sagrado o que já era precioso."

Do quinto conto, Histórias de Gente e Anjos da Lya Luft, deixo um trecho com sabor de observação "P.S.: Não importa muito como se faz nem em que direção se vai no amor, no trabalho, na visão de mundo, num novo projeto. O tempo estreito dos relógios, e todos os sensatos regulamentos que nos despersonalizam a cada hora de cada dia, são válidos quando aqui e ali abrem intervalos por onde se pode expandir a vida."

O sexto, de Marina Colassanti, Onde os Oceanos se Encontram, é verdadeiramente um encontro com a nossa dificuldade de aceitar o não ser correspondido, o não ser o especial, o não ser amado. Não é egocentrismo, é dor e amarga a língua.

O sétimo, o último dos preferidos, Conto de Verão n°2:Bandeira Branca de Luiz Fernando Veríssimo, foi o mais gostoso de ler. "...E a todas essas ele pensando: digo ou não digo que aquele foi o momento mais feliz da minha vida(...) e que todo o resto da minha vida será apenas o resto da minha vida?"

É mesmo assim a ironia com que a vida brinca com cada história, sem dar tempo de voltar atrás, fazer de novo ou fazer de conta.